segunda-feira, 6 de junho de 2011

Bastidores do Capítulo Três de “Os vitrais da sala à prova de som”


Avancemos na nossa tentativa de contextualizar cada capítulo de “Os vitrais da sala à prova de som”. O Capítulo Três no remete de novo para o passado. Fabiana é o centro das atenções e das recordações. Ainda não sabemos (e nem saberemos) o sexo do preso (ou presa) que foi devolvido pelos torturadores dentro do ataúde lacrado para sua família. Como foi norma ao longo do regime militar brasileiro. Mas as recordações de Fabiana a situam pobre, empregada domestica, vítima de seu patrão e estuprador. Aliás, algo normal em muitas casas de classe média brasileiras, em que a empregada doméstica é quase como um animal doméstico. Muitas trabalham sem salário, são confinadas em quartinhos minúsculos e são vítimas sexuais, primeiro, dos patrões. E em seguida, geralmente, são adotadas pelos filhos para suas iniciações sexuais.  
Neste capítulo, avançamos além da condição em que Fabiana se vê colocada. E como cada um de nós, em qualquer canto do planeta bem o sabemos, nestas situações a força a poesia nos resgata de nós mesmos. Por isso, destaco uma frase que creio descrever bem a angústia de Fabiana, antes mesmo dos torturadores do regime militar, mas que a situa no cotidiano da tortura diária que preenche a sobrevivência de milhões de mulheres (e homens): “Seus músculos adolescentes reagem e buscam na química ancestral, a força. E com a mesma química, avalia as sensações. Fraca, se mantém determinada a separar as partes do corpo que lhe pertencem. E vomitar de vez o homem, o quarto, os dedos. Exausta, suada, tenta mais uma vez escorregar daquela pele que rasga a sua, e no atrito, na escuridão e da pressa surgem vários vagalumes e, mesmo sem desistir, Fabiana ri.”
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