quinta-feira, 30 de junho de 2011

Making of do Capítulo Sete

Quem me acompanhou até aqui, apenas o início de um longa jornada que ainda temos pela frente, vai descobrir (como eu o fiz e espero ter sido feliz em relatar) que uma das principais sensações pós-vida é perder a noção exata das diferenças entre todas as coisas. Abro o capítulo com a frase: “Enfim sós diante do espelho”. E a partir da interação do personagem Fabiana, com sua imagem, percebida por ela simultaneamente em vários planos e tempos inferidos pelo leitor, reconstruímos aos poucos a sua vida e o limbo em que se situa. Nem viva nem morta. Alma em estado puro e mesmo assim se percebe cauterizada em cada frase as suas sensações. Até chegarmos, solenes, à frase que encerra o capítulo: “Poderíamos ir juntos pelas casas adentro, abrir panelas, puxar lençóis, mostrar paredes maculadas, arrancar cabeças e elevá-las aos céus para que todos se vejam espalhados nos planos infinitois das vidas em sequência e percebam, quem sabe, a pequenez de suas altas rastejantes."

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Capítulo Seis de “Os vitrais da sala à prova de som”

Aqui o leitor ou leitora terá o primeiro contato dos personagens se desintegrando, individualmente, enquanto se integram coletivamente. A integração é completa pois vai muito além de um personagem com o outro, mas os vincula ao ambiente.

Além disso, as recordações que aparentemente eram apenas de Anunciato, agora são coletivas. É como se sonhassem em conjunto e estivessem agora discutindo o mesmo sonho, em vez de se contar o sonho um para o outro como estamos acostumados nas narrativas lineares.
Mesmo a partir de um sonho em comum, o conflito aparece e resgata, de novo, as diferenças entre eles que se transformam num discurso de confissão de culpas.
Muito divertido porque estamos de fora. E o interessante deste exercício é que nos leva para o nosso cotidiano quando acompanhamos, de fora, os dramas alheios. Até que por algum descuido o precipício nos envolve e afundamos nas emoções que aparentemente não nos pertenciam. E chamamos a este envolvimento amor, compaixão, solidariedade.

Se quiser receber estes comentários sem ter que voltar todos os dias ao blog, é só se inscrever ao lado. Muito obrigado.

sábado, 11 de junho de 2011

Acompanhe os bastidores do Capítulo Seis de “Os vitrais da sala à prova de som”


Aqui, pela primeira vez, os três personagens dividem o mesmo pesadelo. Um artifício que ajudará o leitor ou leitora a percebê-los como parte de um único personagem e, ao mesmo tempo, soprar vidas às partes que reproduz sensações típicas de prisioneiros torturados, de acordo com as pesquisas que sustentam o conteúdo do livro. Fica claro, também, que a tortura é impotente para captar a verdade que, teoricamente, estaria sendo protegida pelo preso. É o que conclui Wilson, um dos personagens. Ëstamos quietos demais, mentimos demais e agora que temos a liberdade para reafirmar a verdade, não sabemos o que falar”. Que tem como complemento a fala de Anunciato: “Eu concordo e sei que algo dorme profundamente aqui bem perto de nossa compreensão...”
Assim prossegue a saga da trindade em um. Que com o passar do livro, dependendo da escolha que o leitor ou leitora fizer para lê-lo, ajudará a emergir personalidades múltiplas, vivencias paralelas, sonhos caleidoscópicos que sustentam, na visão do autor, a personalidade em decomposição de seu personagem que foi devolvido para a família num ataúde lacrado.

Obrigado por continuar me acompanhando. Se quiser, se inscreva ao lado paras receber os comentários. Ou compre o livro na Amazon.com

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Making of do Capítulo Cinco

Agora, Anunciato entra em cena. Interage violentamente no resgate, talvez inútil, das próprias memórias e numa tentativa desesperada de incluir, de novo, o tempo em suas referências. “Ainda pensa no destino. E vê que na maioria das vezes somos surdos e cegos às circunstâncias que se combinam e determinam para que lado nossas vidas escorrerão”, é um trecho que resume, acredito, o DNA deste personagem, que parte de um ser vivo, insiste em deixar suas marcas numa alma que se dissolve sem ainda sua percepção.
O Capítulo Quatro está recheado de referencias à travessia entre a vida e a morte, entre os tempos passados e o tempo presente, entre o absurdo da situação que vivenciam nesta sala, que apesar de ampliada, é apenas um ataúde lacrado. A um só tempo experimentamos, através de Anunciato, as emoções da vida, que ele se esforça para se lembrar, as sensações da morte, que o contaminam por todos os poros e a falta de futuro, pois por mais que insista, o tempo fugiu de suas referencias.

Obrigado por continuar me acompanhando no Making of de “Os vitrais da sala à prova de som”. Se achar conveniente, se inscreva ao lado.

  

terça-feira, 7 de junho de 2011

Como foi escrito o Capítulo Quatro, de “Os vitrais da sala à prova de som”, acompanhe aqui o making of


Um dos personagens, parte da persona que se dissolve no ataúde lacrado, é Wilson. E o Capítulo Quatro serve para introduzi-lo. Aos poucos o leitor complementará suas nuances, que as pinceladas iniciais o desenham como filho de um ambiente cheio de carinho, afeto, mas visto do lado de fora, pelos padrões convencionais como um antro de putaria. Sua mãe, prostituta, o entrega no leito da morte para um pai que ele nunca tinha visto antes. Ao longo deste mesmo capítulo o acompanhamos quase que numa trajetória completa do puteiro ao internato do internato ao quartel. “Durante o golpe militar vê a oportunidade de acelerar suas divisas” é a senha para que se torne um torturador que oferece as oportunidades que o regime oferece com suas recompensas e impunidade. Wilson, como todos os torturadores, porteiros de prédio, soldados de polícia que se tornaram autoritários ao se aproveitar do regime, são frutos amargos e indigestos da época. Aos éramos obrigados a engolir porque o sistema político, a falta de liberdades democráticas, a indiferença da sociedade civil os tornavam legítimos algozes do cidadão comum e carrascos dos presos políticos ou presos comuns que lhes caíam nas mãos. Aliás, os presos comuns continuam a ser torturados até hoje. Mas são pobres ou criminosos dos mais variados níveis. E, portanto, a sociedade civil continua indiferente aos seus dramas e decomposição em vida.
Obrigado por acompanhar meu esforço de desenhar o making of de “Os vitrais da sala à prova de som”. Se inscreva ao lado se quiser receber a continuidade destes textos.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Bastidores do Capítulo Três de “Os vitrais da sala à prova de som”


Avancemos na nossa tentativa de contextualizar cada capítulo de “Os vitrais da sala à prova de som”. O Capítulo Três no remete de novo para o passado. Fabiana é o centro das atenções e das recordações. Ainda não sabemos (e nem saberemos) o sexo do preso (ou presa) que foi devolvido pelos torturadores dentro do ataúde lacrado para sua família. Como foi norma ao longo do regime militar brasileiro. Mas as recordações de Fabiana a situam pobre, empregada domestica, vítima de seu patrão e estuprador. Aliás, algo normal em muitas casas de classe média brasileiras, em que a empregada doméstica é quase como um animal doméstico. Muitas trabalham sem salário, são confinadas em quartinhos minúsculos e são vítimas sexuais, primeiro, dos patrões. E em seguida, geralmente, são adotadas pelos filhos para suas iniciações sexuais.  
Neste capítulo, avançamos além da condição em que Fabiana se vê colocada. E como cada um de nós, em qualquer canto do planeta bem o sabemos, nestas situações a força a poesia nos resgata de nós mesmos. Por isso, destaco uma frase que creio descrever bem a angústia de Fabiana, antes mesmo dos torturadores do regime militar, mas que a situa no cotidiano da tortura diária que preenche a sobrevivência de milhões de mulheres (e homens): “Seus músculos adolescentes reagem e buscam na química ancestral, a força. E com a mesma química, avalia as sensações. Fraca, se mantém determinada a separar as partes do corpo que lhe pertencem. E vomitar de vez o homem, o quarto, os dedos. Exausta, suada, tenta mais uma vez escorregar daquela pele que rasga a sua, e no atrito, na escuridão e da pressa surgem vários vagalumes e, mesmo sem desistir, Fabiana ri.”
Obrigado por acompanhar o making of de “Os vitrais da sala á prova de som”. Se quiser receber os textos sem ter que retornar ao Blog, basta se inscrever aí ao lado.  

sábado, 4 de junho de 2011

Capítulo Dois de “Os vitrais da sala à prova de som”, making of

Cada etapa deste livro, aconchegada em cada capítulo, está vinculada com o todo mas sem explicação. Num desafio proposital ao hábito da causa e efeito, do antes e depois. O que me obrigou a um exercício extra de evitar apelar para a curiosidade do leitor a exemplo das histórias de detetives em que o mistério, que condiciona a continuidade à leitura, é realimentado pela curiosidade do leitor. Aqui apelei para o que considero a necessidade dos leitores de interagir com quaisquer sinais de vida. É também o capítulo em que Anunciato, o segundo dos terceiros personagens principais, se apresenta sob o olhar dos outros dois. E ainda segue na ampliação do teatro do Capítulo Zero mas com uma tentativa que o leitor perceberá, quase desesperada, de se aproximar dos outros dois personagens. Sem conseguir, claro. A frase “O gozo de Fabiana e o soluço de Anunciato os vinculam no que poderia ser vitória ou lástima por tentarem se ferir, de novo, mutuamente” registra, acredito, essa impossibilidade quase desunama de nos vincularmos, mesmo em vida, uns com os outros. E ao mesmo tempo, a tentativa de superar essa barreira de se vincular ao outro é o que nos estimula, creio, a consolidar nossa humanidade.


O making of continua. Se quiser receber os textos sem ter que voltar ao Blog se inscreva ao lado.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Making of: Como surgiu o Capítulo Um


“Viajar no tempo é fácil, o difícil é se lembrar.” Assim começa o Capítulo Um, que insere o fator tempo na fala de Fabiana. E com o tempo, a memória. Que é o principal alvo dos torturadores que vão com tanta violência ao pote que terminam por prejudicar exatamente as lembranças dos seus prisioneiros. O impacto da tortura nas sensações é de tal ordem que a vida do preso é dividida em antes e depois das sessões de tortura. Que passa a viver uma vida arrancada da própria vida, sustentando, com muito esforço o espectro de si mesmo, como mostramos ao longo de "Os vitrais da sala á prova de som".
Tentei construir e situar a personagem através de suas memórias infantis, traumatizada pela pobreza absoluta, resgatando a vida num cortiço típico dos grandes centros urbanos. Locais em que várias famílias dividem, em metrópoles como São Paulo e Rio de janeiro, um único banheiro, um tanque para lavar roupa e todos os ruídos e fofocas ambientes. As paredes falam e suam e choram. E todos partilham da mesma miséria e a abundância de emoções, traições, fome e angústia.
O sexo é algo público. Dividido por todos. Inclusive pelas crianças que são expostas aos adultos em situações íntimas. E Fabiana menina é situada neste inferno que não escapa nunca das memórias e que, de certa maneira, a prepararão para o grande combate à frente, na sua vida, diante de homens implacáveis, inclusive seus torturadores. Para os quais, o amor é na maioria das vezes, uma abstração. Pois é um amor de teatro que se apóia, preferencialmente, em declarações afetivas vazias e se sustenta pelo sentimento de posse, inclusive na hora do sexo. Sem cumplicidade e sem afeto.
Se você quiser receber a sequencia dos Making of de “Os vitrais da sala à prova de som” se inscreva no blog, aí ao lado. E mesmo quando não tiver tempo para nos visitar, receberá a atualização. 

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Making of de “Os vitrais da sala à prova de som”


Zero
“Os vitrais da sala à prova de som” começou a ser posto no papel, com uma máquina portátil que eu tinha levado de Brasil para Londres em abril de 1984, aos 29 anos. Depois de 135 capítulos, que começa com o Zero, consegui arrancar o livro do meu sistema em agosto de 2010, em São Paulo, aos 55 anos.
Minha intenção quando comecei a escrever o livro era buscar um tema perene e que ajudasse o leitor a dar vida aos personagens que eu achava (e continuei a achar depois que aprendi a conviver com seus fantasmas) que poderia criar.
Depois de uma pesquisa árdua, pois na época, ainda não tínhamos as facilidades da internet, descobri que a tortura de governos contra opositores, uma norma no Brasil dos militares, era um sistema universalizado no resto do mundo.
As conseqüências para os prisioneiros, independente do continente e do regime político que torturava, eram também semelhantes. Arranca-se o preso do seu cotidiano, de suas vestes, de sua alma. O preso perde a noção das horas, do tempo e até das próprias convicções.
Por isso, decidi abrir o capítulo Zero com três personagens principais, Anunciato, Fabiana e Wilson, se conhecendo numa sala imensa, acortinada, apesar de não ter janelas. É a primeira cena de um teatro, como aliás é a sensação que se tem quando se é arrancado da própria vida para os porões de qualquer ditadura.
É impossível acreditar que aqueles homens, aparentemente tão humanos quanto a gente, estejam ali dispostos a espancar, ferir, gritar para arrancar confissões de um assunto que no geral eles já estão cansados de saber.
O preso ou a presa é de um grupo de oposição ao regime, está comprometido com a mudança e talvez tenha a mesma têmpera do torturador, apesar de estar ali por ter, temporatiamente, perdido a batalha.
O capítulo Zero, portanto, é usado para apresentar ao leitor o teatro puro e simples, com todas as nuances de reafirmação dos personagens, com diálogos que começam a insinuar que estamos diante de personagens que incorporam muito mais do que a vida como ela é em nosso dia-a-dia.
E já se percebe nos estridentes diálogos (bem teatrais) que já sofrem ou são vitimas de alguma distorção nas suas vinculações com as realidades imediatas. Mas ainda são de carne e osso, pelo menos é essa a intenção e é assim que muitos leitores e leitoras lhes soprarão vidas.
Continua... Não perca, o Making Of do Capítulo 1. 

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Como nasceu o livro

"Vitrais da sala à prova de som" surgiu de duas notícias que li por volta de 1982, enquanto me preparava para me mudar para Londres. Uma delas mostrava como os presos políticos torturados perdiam a noção de tempo. Resgatei alguns relatos em http://associacao6468-anistia.blogspot.com/2007/11/39.html. 
Outra notícia mostrava o hábito dos torturadores do regime militar brasileiro de entregar para a família o caixão lacrado com o corpo do preso político. O caixão tinha apenas um pequeno vitral onde a família podia ver o rosto do preso. 
Veja detalhes em
http://www.democraciacdh.uchile.cl/media/archivos/pdf/20110105113106.pdf.
Assumi, então, a hipótese de os militares, num último ato de tortura, colocar o prisioneiro, ainda vivo, dentro do próprio caixão. O livro relata a diluição das várias personalidades que compõem o prisioneiro. E cada uma delas e em cada uma das circunstâncias só ganha vida com o sopro do olhar do leitor ou leitora. Assim, o livro pode ser lido de qualquer maneira. De frente para trás, do meio para frente, aleatoriamente. Ao final, o livro emerge e os personagens se integram à vida do leitor ou leitora.

Observação do autor: Você é que soprará vida aos personagens deste livro. E os resgatará do ataúde lacrado através dos vitrais de uma sala à prova de som. Independente da ordem de sua leitura, você será cúmplice e criador da obra que emergirá. Portanto, todo cuidado é pouco para não sucumbir ao caleidoscópio que o arrastará para uma nova realidade que terá os personagens que você ajudou a dar vida como seus interlocutores, seus aliados ou seus carrascos.
Compre o livro na Amazon Kindle.