segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Torturadores são vermes que proliferam nos porões dos regimes de força ou na ineficiência dos Estados democráticos

Adriana de Andrade Roza escreve na conclusão do seu artigo “Tortura: um estudo crítico de sua digressão histórica”, publicado no site Jus Navigandi que:
“Em suma, quem é torturado quer esquecer o suplício, quem torturou quer a impunidade de uma legislação que vige, mas não obtém a eficácia social almejada. A ineficácia da Lei da Tortura deve-se sobretudo à tolerância dispensada à prática deste tormento, o qual mascara o conflito de duas força poderosas: a luta do homem pela dominação de seus semelhantes, por poder e prestígio, e os direitos à vida e à integridade física e/ou corporal humana.”
O que talvez tenha escapado à articulista é o fato de que o torturado não esquece o suplício. A partir das sessões de tortura se transforma em outra pessoa, que incorpora uma nova alma, nova sensibilidade, nova maneira de perceber a transcendência humana, que inclui, a partir do suplício que lhe foi imposto, a brutalidade nua, crua e irracional.
Se, muitas vezes se cala, é por perceber que é praticamente impossível traduzir o que sentiu nas sessões de barbárie às quais sobreviveu. Como reconhece também ser impraticável, em qualquer regime democrático, punir o torturador com o mesmo vigor com que foi mal tratado.
E o fato de calar-se, permite que socialmente tenhamos a impressão de “tolerância dispensada à prática deste tormento”, como relata a autora do artigo.
Que acredita, de maneira simplista, que a tortura “mascara o conflito de duas forças poderosas: a luta do homem pela dominação de seus semelhantes, por poder e prestígio, e os direitos à vida e à integridade física e/ou corporal humana”.
Uma tese que traz embutida o risco de legitimar os torturadores ao vinculá-los à motivação da “luta do homem pela dominação de seus semelhantes”.
Em “Os vitrais da sala à prova de som” Marco Roza traz à tona um mosaico que mostra que o torturador é uma praga humana, que sobrevive aos conflitos e confrontos históricos, porque os torturados captam na sua nova dimensão humana a impossibilidade de punir adequadamente os torturadores. 
E que nas sessões de tortura, amedrontados e abandonados à própria sorte, as vítimas muitas vezes dão a impressão de legitimar as práticas violentas adotas pelo torturador.
O silêncio dos torturados e a impunidade dos torturadores se combinam e criam o ambiente adequado para que a tortura reproduza seus agentes nas prisões e nos enfrentamentos que escapem à vigilância e transparência da sociedade civil.
Marco Roza tenta resgatar em “Os vitrais da sala à prova de som” a transcendência humana que os torturados representam por estarem, na maioria das vezes, associados com o que há de mais humano nas disputas sociais e históricas que perderam. Diferentemente dos torturadores que não sabem o que é disputar o poder através de regras democráticas. 
Porque os torturadores são apenas vermes que sobrevivem nos porões das ditaduras, dos regimes de força ou nos labirintos da falta de controle e punição dos Estados democráticos.

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