quarta-feira, 23 de setembro de 2015

É impossível torturar o espírito humano, como demonstra “Os vitrais da sala à prova de som”, de Marco Roza

O relato a seguir foi extraído do “Estudo Sobre a Tortura no Brasil”, publicado pela Fundação Perseu Abramo. Você pode ler a íntegra se tiver estômago em http://novo.fpabramo.org.br/content/estudo-sobre-tortura-no-brasil
“Alguns métodos de tortura são concebidos para cumprir, mais especificamente, o objetivo de desestruturação psicológica: é o caso das técnicas de desorganização sensorial, utilizadas no método chamado "geladeira", em que a manutenção de um prisioneiro em cubículo impõe limitações à organização do movimento e ao exercício das possibilidades posturais, propondo não só a restrição do espaço físico mas também do espaço psicológico; a permanência em celas contínua e fortemente iluminadas, a disposição aleatória dos intervalos de refeição, as mudanças bruscas de intensidade ou frequência dos sons, queda ou elevação rápida de temperatura, além da inexistência de registradores do tempo social.(relógios, calendários, etc.) impedem a percepção de qualquer ordenação sistemática, destroem a lógica das sucessões e dos referenciais externos - em geral estáveis e bem definidos, como a passagem das horas, da gradativa-passagem do calor para o frio, etc. - e tem por finalidade desintegrar os referenciais internos - certezas, objetivos, valores etc. - e tornar o torturado incapaz de realizar qualquer avaliação, de estabelecer critérios do que é ou não importante e, desta forma, aumentar a possibilidade dele fornecer informações.”
Em “Os vitrais da sala à prova de som”, o autor Marco Roza preferiu que seus personagens superassem com a determinação do que nos faz humanos todas as artimanhas dos torturadores, que nunca conseguiram (nem mesmo com as técnicas que desenvolveram na época da Inquisição) interromper o fluxo do espírito humano rumo à liberdade e à dignidade.
Até mesmo de uma cela fria ou de um ataúde lacrado, como relatamos em “Os vitrais da sala à prova de som”, é possível emergir mais forte e mais humano do que qualquer torturador.
É impossível torturar o espírito humano. Sejam dos prisioneiros políticos de classe média, que reagiram com dignidade à prepotência da ditadura militar, ou dos pobres e pretos, vítimas preferenciais dos massacres ainda cotidianos nas delegacias de polícia.

Como também é possível reagir e superar as torturas miúdas nos ambientes de trabalho, nos relacionamentos afetivos que deram errado ao resgatarmos, com fé, nossa essência absolutamente humana.

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