O relato a seguir foi extraído do
“Estudo Sobre a Tortura no Brasil”, publicado pela Fundação Perseu Abramo. Você
pode ler a íntegra se tiver estômago em http://novo.fpabramo.org.br/content/estudo-sobre-tortura-no-brasil
“Alguns
métodos de tortura são concebidos para cumprir, mais especificamente, o
objetivo de desestruturação psicológica: é o caso das técnicas de
desorganização sensorial, utilizadas no método chamado "geladeira",
em que a manutenção de um prisioneiro em cubículo impõe limitações à
organização do movimento e ao exercício das possibilidades posturais, propondo
não só a restrição do espaço físico mas também do espaço psicológico; a
permanência em celas contínua e fortemente iluminadas, a disposição aleatória
dos intervalos de refeição, as mudanças bruscas de intensidade ou frequência
dos sons, queda ou elevação rápida de temperatura, além da inexistência de
registradores do tempo social.(relógios, calendários, etc.) impedem a percepção
de qualquer ordenação sistemática, destroem a lógica das sucessões e dos
referenciais externos - em geral estáveis e bem definidos, como a passagem das
horas, da gradativa-passagem do calor para o frio, etc. - e tem por finalidade
desintegrar os referenciais internos - certezas, objetivos, valores etc. - e
tornar o torturado incapaz de realizar qualquer avaliação, de estabelecer
critérios do que é ou não importante e, desta forma, aumentar a possibilidade
dele fornecer informações.”
Em “Os vitrais da sala à prova de
som”, o autor Marco Roza preferiu que seus personagens superassem com a determinação
do que nos faz humanos todas as artimanhas dos torturadores, que nunca
conseguiram (nem mesmo com as técnicas que desenvolveram na época da Inquisição)
interromper o fluxo do espírito humano rumo à liberdade e à dignidade.
Até mesmo de uma cela fria ou de
um ataúde lacrado, como relatamos em “Os vitrais da sala à prova de som”, é
possível emergir mais forte e mais humano do que qualquer torturador.
É impossível torturar o espírito
humano. Sejam dos prisioneiros políticos de classe média, que reagiram com
dignidade à prepotência da ditadura militar, ou dos pobres e pretos, vítimas
preferenciais dos massacres ainda cotidianos nas delegacias de polícia.
Como também é possível reagir e
superar as torturas miúdas nos ambientes de trabalho, nos relacionamentos
afetivos que deram errado ao resgatarmos, com fé, nossa essência absolutamente
humana.
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