“Nós
somos um país racista, tivemos uma abolição tardia. Essa divisão do país é
importante, temos que falar disso para superar”, diz o cineasta Maurício
Farias, na divulgação do seu filme “Mister Brau” em entrevista a Lígia
Mesquita, na Folha.
Na
mesma edição, encontramos o texto “239 volta para casa”, de Demétrio Magnoli,
no qual lemos: “A história de Shaker Aamer é uma impugnação do argumento
clássico de defesa da tortura”.
O
articulista argumenta que: “A justificação "moral" da tortura assenta
no dilema da bomba-relógio. Se é capturado um terrorista que guarda informação
sobre um atentado iminente, não seria a tortura uma ferramenta aceitável, até
compulsória, para salvar as vidas de incontáveis inocentes? O problema
insolúvel do argumento é que ele supõe um cenário ideal, no qual sabe-se de
antemão que o prisioneiro é um terrorista e, ainda, que dispõe de um segredo
específico. A história de Aamer, entre tantas outras, revela que tal cenário é
uma construção puramente teórica, destinada a flexibilizar um interdito moral.
Na neblina da vida real, seria preciso torturar pencas de inocentes e
terroristas ignorantes até chegar, casualmente, ao detentor da informação
crucial.”
O
que me leva a perguntar se não seria interessante resgatar os torturados na sua
humanidade, para constranger os torturadores, como tenta Maurício Farias fazer
com os racistas brasileiros no seu filme “Mister Brau”?
Tanto
quanto o racismo, a tortura está ativíssima. Nas prisões, nos lares, nos
relacionamentos. Tendo como suas vítimas preferenciais os negros e pobres nas prisões;
as mulheres nos relacionamentos com seus parceiros, os humilhados e ofendidos
diante dos que se julgam donos de suas vidas, seus corpos e seus destinos.
Resgatar
a integridade humana dos torturados acredita Marco Roza é interromper o
discurso da manutenção dos poderes, em quaisquer níveis, ao custo da dilaceração
impune de músculos e nervos.
Como
se fosse possível, como acreditam os torturadores e seus cúmplices ao se
manterem em silencio ou indiferentes, moldar vontades, eliminar liberdades e
interromper a caminhada da humanidade rumo a estágios mais civilizados.
Para
resgatar a humanidade dos torturados, dos humilhados e ofendidos é que Marco
Roza elaborou “Os vitrais da sala à prova de som”.
Que
é um assunto que fará, necessariamente, parte de nossa agenda à medida que nos
inserimos, humanos, nos destinos que a Humanidade nos impõe e deixarmos de ser
cúmplices dos torturadores, por omissão ou indiferença.
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